O FAZER PEDAGÓGICO-2009

quinta-feira, 18 de junho de 2009


O CASO DO ESPELHO
Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata.
Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos.
Depois gritou, com o espelho nas mãos:
-Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?
-Isso é um espelho- explicou o dono da loja.
-Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.
O olhos do homem ficaram molhados.
-O senhor...conheceu meu pai? –perguntou ele ao comerciante.
O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.
-É não! –respondeu o outro. –Isso é o retrato de meu pai. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?
O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho.
Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira.
A mulher ficou só olhando.
No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.
-Ah, meu Deus! –gritava ela desnorteada. –É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!
-Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.
-Que foi isso, mulher?
-Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?
-Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!
O homem não estava entendendo nada.
-Mas aquilo é o retrato do meu pai!
Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:
-Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?
A discussão fervia feito água na chaleira.
-Velho lazarento coisa nenhuma! –gritou o homem, ofendido.
A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito uma criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa.
Que é isso, menina?
-Aquele cafajeste arranjou outra!
-Ela ficou maluca – berrou o homem, de cara amarrada.
-Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Ta lá! É o retrato de outra mulher!
A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar tal retrato.
Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.
-Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!
E completou, feliz , abraçando a filha:
-Fica tranqüila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova
Versão de conto popular por Ricardo Azevedo

Um comentário:

  1. Oi Regina;
    Adorei este texto, serve para que possamos pensar quem somos: não somente externamente, mas também no nosso interior. Qual será o valor que nos damos?
    Adorei o teu blog está muito legal, segue completando ele. bjs
    Marilete

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